quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Olimpíada da Língua Portuguesa 2010 - Redação vencedora da etapa escolar, na categoria "Memórias"

Uma vida, muitas histórias
            Meu nome é Geralda Fernandes Jacob, nasci no dia 18 de junho de 1923, na cidade de Goianá, no estado de Minas Gerais. Tive cinco irmãos: Isaura, Isabel, Evangelina, Pedro e José, de apelido Zuca.
            Meus pais trabalhavam na lavoura de uma fazenda e passamos por muitas privações, nem sempre tínhamos o que comer. Ainda muito pequena, não me lembro com que idade, fui trabalhar na casa de Dona Zizi, que me dava para comer os restos que os filhos dela deixavam no prato. Hoje, todos já se foram e eu estou aqui, firme e forte.
            Mas nem tudo foi sofrimento. Eu e minha irmã Isabel sempre saíamos escondidas de casa e pegávamos um trem de carga até a estação mais próxima e, depois, voltávamos em outro. Era muito divertido.
            Quando fiquei mocinha, fui trabalhar em Rio Novo e recebia três réis de salário. Eu gostava de ir aos bailes, às quermesses da Igreja e ao carnaval de salão. Era muito bom. Sempre arrumava meu cabelo e, para ele ficar bem lisinho, eu passava um pente de ferro que era aquecido na chapa do fogão à lenha. Depois, eu untava meu cabelo com vaselina e ele ficava lisinho e brilhante.
            Ainda jovem, me casei com Valdemar e fomos morar na Fazenda Santa Leocádia para trabalhar na lavoura. Depois, nos mudamos para a Fazenda dos Dumbica e, logo a seguir, para a Fazenda Fundão. Fiquei grávida doze vezes, mas apenas nove crianças sobreviveram.
            Algum tempo depois, nos mudamos para Juiz de Fora e fomos morar numa casa de aluguel no Bairro Marumbi. Vieram novamente as dificuldades, pois meu marido se entregou ao vício do álcool e eu precisei trabalhar para pagar o aluguel e sustentar meus filhos. Os mais velhos tomavam conta dos mais novos, enquanto eu lavava roupas para fora e saía para trabalhar em casa de família, de onde eu sempre levava algumas sobras de comida para as minhas crianças.
            Um dia, conversando com a Isaura, fiquei sabendo que estavam vendendo um lote no Macuco, atual Parque Independência. Então, eu o comprei e o paguei à prestação, com muita dificuldade. Construí um barraco de pau-a-pique com cobertura de sapê e fomos morar lá. Depois que meus filhos começaram a trabalhar, construímos uma casa melhor.
            Um dos meus filhos, o Ivan, morreu atropelado em uma avenida perto de um lugar chamado Recanto dos Lagos. Ele estava com 28 anos. Foi muito difícil superar essa perda, mas a vida seguiu o seu rumo.
            Quando o meu filho Ivani, que morava em São Paulo, decidiu se casar, ele me escreveu e me pediu que eu comprasse uma dentadura para ir ao seu casamento. Lavei muitas trouxas de roupas e juntei o dinheiro. Mandei fazer a dentadura, que, aliás, é a mesma que uso até hoje. Ela deve ter mais ou menos uns 25 anos e nunca deu defeito. Material bom esse, né?
            Quando eu era criança, não pude estudar, então, quando meu marido faleceu, fui estudar na Escola Municipal Arllete Bastos de Magalhães. Eu já estava com oitenta e poucos anos, mas nunca é tarde para começar. Infelizmente, por causa de um problema no joelho, fiquei impossibilitada de andar por quase um ano e tive que parar de frequentar as aulas. Graças a Deus, já estou andando, devagar, mas andando.
            Hoje, tenho uma boa casa para morar e alguns dos meus filhos moram perto de mim. Os outros estão espalhados por aí: um em São Paulo, outro no Rio de Janeiro e, o mais velho, em Coronel Pacheco.
            Tenho muitos netos e alguns bisnetos. Sou feliz. A tormenta foi grande, mas com a ajuda de pessoas generosas e a fé em Deus, que sempre me deu forças para seguir em frente, eu venci.

Reinault Fernandes Ferreira Júnior, 8º Ano A
Memórias de Dona Geralda Fernandes Jacob

Notícia publicada pela Profª. Maria Lúcia Marangon

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